QUER SER FELIZ? APRENDA A SER TRISTE.
Antes dos Coaches motivacionais aparecerem sobre a face da Terra, os gurus da felicidade já existiam nas mais variadas formas e davam palestras, discursos, escreviam rezas, livros, criavam deuses e outros personagens de Games tudo com o intuito de tentar ensinar as pessoas a serem felizes, pelo único fato delas ficarem tristes, e não gostarem.
Parece justo, né? Mais ou menos, só esses gurus saíam felizes pois ganhavam dinheiro, influência e as vezes até poder político. Assim nasceu a auto-ajuda, filosofia que finge ajudar terceiros onde na verdade está ajudando apenas a si mesmo e caso reclamem que seu método não funcionou a responsabilidade é do “paciente” pois não teve fé o suficiente pra ser feliz.
Indo para o lado sério da questão, tanta informação bombardeada nas pessoas sobre a obrigação de todos serem felizes a toda hora gerou consequências terríveis no psicológico cultural da população onde na óbvia impossibilidade de estar sempre feliz e realizado as pessoas passaram a fingir esse estado de plenitude, ocasionando, como esperado, graves consequências psicológicas que terminam em depressão, que não por acaso, é o mau do século e ainda é assolado por preconceito.
Analisando de perto, qual a necessidade de estar sempre feliz? A explicação vem de uma ideologia americana de ser “winner” (vencedor) toda hora, a todo custo, e caso não seja, finja, pois essa confiança atrai dinheiro e parcerias, tudo pra não ser um “loser” (perdedor). O problema é que essa pressão social cria suicidas ou atiradores em escolas e Shoppings… Resumindo, a falsidade da eterna felicidade nasceu de uma necessidade de marketing pessoal que desrespeita não só toda a gama de sentimentos que uma pessoa pode ter, mas a realidade. Como manter-se feliz e inabalável diante da perda de um emprego, teu animalzinho, um amigo, a própria mãe?
Visto que não seria possível apenas com obstinação manter a felicidade falsa os remédios tarja preta ganharam notoriedade como “negadores da tristeza” e mesmo falhando, outro previsto, virou um negócio lucrativo e por isso que as pessoas preferem um Rivotril do que encarar a si mesmo honestamente. Bom, é melhor que o Crack, né?
É nessas horas que precisamos parar, normalmente antes de um BurnOut, e repensar porquê outros sentimentos que não a felicidade são proibidos segundo a mídia e o senso comum.
Se o corpo humano possui tantos sentimentos para a insatisfação, por quê seria errado senti-los? Simplesmente não é, mesmo que haja muita pressão externa, você tem todo o direito de chorar o luto, ficar triste pela derrota do teu time de futebol, quando alguém não cumpre um combinado ou ficar furioso, pelos mesmos motivos, pois cada pessoa reage como lhe convém naturalmente pelo corpo e não de acordo com convenções sociais que geram demanda para psicólogos.
Posto isto, vemos que o criador da frase “adeus mundo cruel” estava correto pois o mundo é um lugar injusto onde as infelicidades vêm fácil e de graça, enquanto a felicidade deve ser conquistada e normalmente custa muito, as vezes custa a felicidade. Como diz a filosofia, “a angústia vos acompanhará sempre” (Heidegger) mas a conquista da felicidade vale a pena, por isso não se deve desistir de ser feliz, mas como resistir em pé até que a felicidade chegue?
A solução que imagino é, simplesmente, aprender a conviver com os sentimentos de insatisfação para que não doam ou irritem tanto. Essa noção eu tiver ao ver os cachorrinhos sem as patas dianteiras saltitantes e felizes, brincando com os outros cachorrinhos após adaptarem suas deficiências até se tornarem particularidades.
Penso que, se aprendermos a lidar com nossos sentimentos que causam raiva, tristeza e afins podemos ser menos atingidos com a paralisia da insatisfação e termos mais ânimo para levantar, sacudir a poeria e dar a volta por cima. O problema é pensar no como pois não existe uma fórmula da felicidade que sirva pra qualquer pessoa e essa é uma busca pessoal e não pode ser banalizada por “10 hábitos das pessoas felizes” ou “7 segredos das pessoas motivadas” posto que somos todos seres únicos, pessoais e intransferíveis, assim como nossos sentimentos.